As transformações que a tecnologia tem promovido no sistema financeiro têm benefícios indiscutíveis. Inovações como o Open Finance e o Pix ampliaram o acesso de brasileiros a serviços bancários, agilizaram processos, reduziram a burocracia e deram às instituições financeiras um novo patamar de relacionamento e acesso a informações. Mas o avanço tem outro lado da moeda: é preciso transformar também a maneira de analisar os riscos na concessão de crédito em um mercado cada vez mais digital.
Em recente publicação, Hugo Rodrigues Ferreira, mestre em Gestão do Conhecimento e Tecnologia da Informação, traça um panorama das inovações tecnológicas no setor financeiro e mostra como elas transformaram o negócio e a jornada do usuário com a possibilidade de abertura de contas de forma 100% digital e acesso a transações instantâneas, por exemplo. Em seguida, indica como essas mudanças exigiram adaptações na operação de backoffice, ou seja, no trabalho de setores que têm pouco ou nenhum contato com o cliente, mas que precisam ser cada vez mais automatizados para garantir respostas ágeis às demandas.
Este é um grande desafio, especialmente para as instituições brasileiras, que têm boa parte de seus processos canalizados para as agências e que ainda acreditam que a assinatura num papel é sinônimo de segurança. Hoje, uma assinatura digital, que pode ser associada a redes sociais e um perfil de navegação, acrescentando em menos de um segundo dezenas de informações sobre aquele usuário, pode oferecer mais segurança do que uma assinatura num papel”, compara o autor.
Segundo Ferreira, na era da Economia de Dados, as informações são o novo petróleo e elementos-chave para novas configurações de negócios no setor financeiro, inclusive na concessão de crédito. Nesse contexto em que a análise de dados “força um novo futuro”, segundo o autor, métodos tradicionais de gestão de risco como os modelos de Credit Scoring, de 1945, precisam ser atualizados e agregar informações baseadas em dados para gerar análise mais assertivas e efetivas na redução de perdas e combate a fraudes.
Nos desafios da Economia de Dados, os aspectos comportamentais passaram a ofertar vantagem competitiva aos novos entrantes do mercado financeiro, proporcionando novos conhecimentos, logo gerando aprendizado e decisões diferentes”, pondera o autor.
A lição da China
Ferreira cita a experiência chinesa com o uso de meios de pagamento digitais para ilustrar como essas tecnologias atuam na captação de dados, características de consumo e histórico de operações dos clientes e se converteram em fontes de informações para análise de risco.
Uma dessas tecnologias é um sistema de classificação de crédito pessoal que utiliza informações geradas em um aplicativo de pagamentos para determinar a confiabilidade dos usuários por meio de seu comportamento de pagamento e histórico de crédito na plataforma.
O que as empresas na China aproveitaram foi o fator de vantagem competitiva. Ao unir chat, e-commerce, meio de pagamento, plataformas de estilo de vida e necessidades e integração ao meio urbano de vida dos clientes. Com isso, eles aprenderam muito sobre seus consumidores, chegando a decisões inimagináveis para as instituições bancárias tradicionais”, compara.
Segundo Ferreira, o exemplo chinês pode ser uma indicação de caminhos para a ampliação do uso de tecnologias de dados no sistema financeiro brasileiro, principalmente em relação a novos tomadores de empréstimos.
É importante destacar que o uso de informações deve ser feito sempre com responsabilidade. As cooperativas de crédito brasileiras estão atentas a esse cuidado e trabalham de acordo com as diretrizes da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), elaborada para prevenir o uso indevido de informações privadas.
Em vigor desde 2021, a lei criou uma série de obrigações que as instituições que lidam com dados pessoais devem seguir para garantir a segurança dessas informações e evitar exposição e danos aos usuários.
A revolução do Pix
O autor também faz uma análise de como o Pix revolucionou o sistema financeiro brasileiro com a unificação em um mesmo ambiente dos dados que antes estavam em TED, DOC, cartões e dinheiro. Ou seja, as instituições financeiras têm agora acesso mais fácil a informações sobre operações financeiras que antes estavam difusas.
Essa rapidez e disponibilidade de dados tem um preço: é preciso incrementar serviços e garantir respostas ágeis. Além disso, segundo Ferreira, “as funções de risco e tesouraria também precisarão aumentar seu desempenho na administração de liquidez para monitorar, administrar e financiar transações nos intervalos de tempo de liquidação 24 horas por dia, sete dias por semana, 365 dias por ano”.
O caminho para essas soluções, de acordo com o autor, passa por investimentos em ferramentas de business intelligence e ciência de dados e contratação de mão de obra especializada nas duas áreas.
Segundo Hugo Ferreira, um analista de business intelligence pode transformar dados e informações em relatórios acessíveis, facilitando a tomada de decisão dos gestores. Já um cientista de dados com foco em negócios pode usar técnicas como inteligência artificial e machine learning para encontrar padrões que indiquem risco de inadimplência ou possibilidade de fraudes, por exemplo.
O autor pondera que os novos modelos de atuação na era da Economia de Dados têm aparecido de forma rápida nas chamadas fintechs (startups de tecnologia que atuam no setor de finanças), mas que as instituições financeiras cooperativas também vêm se adaptando às mudanças em curso.
Diante desse cenário, para viabilizar a transição da gestão de risco convencional para a da era digital, umas das possibilidades é combinar o conhecimento das cooperativas sobre o mercado de crédito com a inovação das fintechs. Ferreira cita como exemplo a Hound Software, dos Estados Unidos, que trabalha em parceria com cooperativas e coleta, integra e analisa dados de associados para direcionar um fluxo de trabalho automatizado para orientar os cooperados sobre serviços relevantes.
Fonte: Confebras
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