Os dados trazidos pela edição mais recente do Panorama do Sistema Nacional de Crédito Cooperativo (SNCC), publicado pelo Banco Central (BC), não deixam dúvidas: o cooperativismo no Brasil vai muito bem, obrigado.
Afinal, já são mais 13 milhões os participantes deste sistema, com ativos financeiros equivalentes aos do quarto maior banco em operação no país, uma evolução acima de 30% ao ano, e quase R$ 460 bilhões em ativos trafegando pelas cerca de 800 cooperativas de crédito existentes no país.
Claro, tudo isso é motivo de orgulho e otimismo na área, mas como todo organismo em crescimento, crises de identidade podem acontecer e talvez esta seja a definição mais exata de uma reflexão recorrente no meio: o cooperativismo de crédito estaria se afastando de sua essência?
Quem tema tal possibilidade alega que o setor se viu obrigado a tornar-se cada vez mais semelhante a bancos e fintechs em suas práticas e também na oferta de produtos e serviços, como forma de se manter competitivo frente à avassaladora transformação digital em curso no campo financeiro.
Até aí, tudo bem, é preciso acompanhar a evolução tecnológica, mas será que este upgrade das cooperativas não prejudicaria seu perfil básico de colocar o bem comum e a figura do cooperado?
Há quem atribua no setor o início de questionamentos assim ao fato de, na última virada de século, terem surgido os primeiros bancos atrelados a cooperativas de crédito, no afã de atenuar a grande dependência de instituições convencionais até então amargadas pelo sistema.
À medida que o catálogo de produtos bancários foi crescendo no cooperativismo de crédito, muitos alegaram uma similaridade à filosofia de trabalho diferenciada que o sistema se propôs a modificar, quando ocorreu o seu nascimento, no começo do século passado.
Valeria a pena deixar em segundo plano ações e programas focados em educação financeira e manter o princípio do interesse geral, por exemplo, e ficar apenas mais do mesmo? Ou continuar impactando de forma positiva a vida dos cooperados, antes de qualquer outra coisa?
Bem, ter lucro não é crime, e sem ele as cooperativas de crédito certamente não teriam vingado. Tudo indica, porém, que manter o equilíbrio continuará sendo a base de sua sobrevivência.
Um forte aliado nisso tudo tende a ser a sintonia entre as mandatórias práticas ESG no mundo de hoje e o próprio DNA do cooperativismo, ao vincular suas metas às do coletivo. E convenhamos, atrelar toda e qualquer atividade a valores ambientais, sociais e de governança tem tudo a ver com isso.
Fonte: Infocredi 360
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