O mercado de trabalho está em um momento de transição, e pensar em novas formas de atender à demanda social por uma colocação é vital para a sustentabilidade de todo o sistema. Neste contexto, o cooperativismo de plataforma surgiu com o objetivo de trazer um novo significado para o trabalho, unindo produtividade ao bem-estar social.
O poder de transformação e a sustentabilidade desse modelo foram alguns dos temas destacados durante a 7ª Conferência Internacional de Cooperativismo de Plataforma. Realizada entre os dias 4 e 6 de novembro no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, o evento reuniu diversas vozes para discutir o futuro do modelo e como é possível expandi-lo de forma exponencial. A MundoCoop, apoiadora desse movimento, foi parceira oficial deste grande encontro.
Com a presença de 300 pessoas, a Conferência se iniciou na sexta-feira, com a presença de Abdul Nasser, superintendente do Sescoop/RJ. Segundo ele, o cooperativismo de plataforma é uma importância ferramenta de mobilidade social, necessária para uma grande transformação. “É um modelo negócio sustentável, mas que prioriza o lado humano. É importante ter em mente que os Unicórnios não conseguem se transformar em cooperativas, e essas não podem funcionar como ONGs, precisam ter a viabilidade financeira”, frisou.
Ainda em sua fala inicial, Nasser destacou o papel do evento em difundir o valor do cooperativismo de plataforma, lembrando que o encontro é um importante momento de networking entre pessoas em busca de um único objetivo. “Nosso objetivo é desenvolver o cooperativismo no Rio de Janeiro e em todo o Brasil. Esse evento propicia que novas conexões sejam feitas e os valores do cooperativismo difundidos”, completou.
Na primeira parte da Conferência, iniciativas de sucesso foram apresentadas ao público. Aline Os e Jacira Sousa falaram sobre o coletivo de entregas Señoritas Courier, formado por mulheres e pessoas LGBTQIAP+ que fazem entregas de bicicleta; e Pedro Augusto Andrade relatou a experiência do Appjusto, um aplicativo de entregas no qual os trabalhadores definem seus próprios preços nas entregas.
Já Alexandre Zago explicou o funcionamento do Contrata quem Luta, um assistente virtual criado pelo Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto e que conecta profissionais e contratantes de pessoas que buscam serviços como limpeza ou pintura. E por fim, o grafiteiro Mundano apresentou a plataforma gratuita Cataki, que conecta catadores de lixo a indivíduos e organizações que precisam reciclar seus resíduos residenciais ou comerciais.
Novo mercado
O cooperativismo de plataforma promove um novo mercado, e olhar para seu potencial de mudança é vital para a criação de novos mecanismos de promoção do direito ao emprego e às condições de trabalho dignos. Esse papel social foi reforçado por Vinicius Mesquita, presidente do Sistema OCB/RJ, que ressaltou os benefícios do cooperativismo de plataforma. “O Cooperativismo de plataforma é uma forma justa e igualitária de distribuir trabalho e renda na mesma proporção aos associados, sendo uma alternativa viável à superexploração do trabalho que ocorre em aplicativos tradicionais. Basicamente aproveita-se a tecnologia, mas de uma forma que envolva a copropriedade, em que todos os participantes são donos do negócio. Tudo isso dentro de princípios como pagamentos justos e seguridade de renda, transparência e portabilidade de dados, estrutura jurídica protetora, benefícios e proteção trabalhistas, dentre outros”, destacou.
Já em pleno funcionamento no país e reunindo diversas iniciativas que estão remodelando a forma de pensar e fazer cooperativismo, a Conferência ainda contou com a presença de Claudio Montenegro, presidente das coops Comunicoop e Onde Tem Coop. Em sua participação, Montenegro apresentou a plataforma OTC (Onde Tem Coop), nova solução voltada para a divulgação do cooperativismo brasileiro.
Um dos destaques nos últimos anos, a categoria de motoristas de aplicativo foi tema da fala da antropóloga Rosana Pinheiro-Machado. Em sua apresentação, Machado destacou a recente precarização do trabalho em países como o Brasil, Índia e Filipinas. Na pesquisa que desenvolve atualmente, pergunta: “Qual o papel da tecnologia e qual o efeito que isso traz aos Trabalhadores?”. Segundo ela, um dos efeitos desse cenário é a desmobilização e a exaltação do individualismo, contexto que o cooperativismo de plataforma – e o movimento como um todo – vem desmantelar e ressignificar.
Com passagem em cidades como New York, Berlin e Hong Kong, a Conferência foi palco de diversos debates sobre como o setor pode ajudar no desenvolvimento das comunidades. Em três, palestras nacionais e internacionais lembraram do real significado do trabalho das cooperativas, lembrando mais uma vez que a transformação vem através das mãos e do esforço coletivo. Com forte tradição no cooperativismo, o Brasil hoje é um celeiro de ideias inovadores em relação ao tema, com potencial para ganhar destaque no mercado nos últimos anos.
A 7ª Conferência Internacional de Cooperativismo de Plataforma teve o apoio do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS Rio) em parceria com o Platform Cooperativism Consortium, além do Sistema OCB/RJ e a MundoCoop, mídia parceira do evento.
Fonte: Sistema OCB/RJ, com adaptação da MundoCoop
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