O movimento cooperativista está intrinsecamente ligado aos temas do meio ambiente, sustentabilidade e inclusão social. Esse relacionamento tem dado um destaque especial aos projetos em prol da Amazônia, que têm ganhado mais força por meio de parcerias entre grandes empresas e as cooperativas. As organizações desempenham um papel crucial na economia, impulsionando o desenvolvimento socioeconômico nas comunidades onde operam e contribuindo para a competitividade dos negócios.
Quando exploram os recursos naturais de maneira responsável, essas parcerias não apenas promovem o crescimento econômico, a preservação ambiental e o protagonismo das comunidades, mas também o desenvolvimento científico a partir dos saberes locais. Pensando nisso, empresas como a Natura, a SOS Amazônia e as cooperativas têm desenvolvido ações e projetos, que não só auxiliam nos recursos, como estimulam os produtores a ampliarem seus negócios e mercados.
Débora Ingrisano, Gerente de Desenvolvimento de Cooperativas do Sistema OCB, conta que no contexto da Amazônia e de outros empreendimentos sustentáveis, as parcerias com empresas têm sido fundamentais para auxiliar o escopo de suas atuações, permitindo o aprimoramento dessas práticas.
“Essas colaborações estratégicas representam uma sinergia poderosa entre os conhecimentos, recursos das cooperativas locais, expertise e a capacidade de investimento das empresas e outras entidades. O resultado é o impulso significativo para o desenvolvimento sustentável na região amazônica”, explica a gerente do Sistema OCB.
COP 30 em Belém será uma boa oportunidade para as cooperativas
O tema Amazônia tem sido trazido também para dentro das cooperativas por meio de encontros e capacitações. Um deles foi promovido pelo Sistema OCB em conjunto com o Ministério das Relações Exteriores (MRE). A ação reuniu vários diplomatas brasileiros, onze países, além de representantes de organizações parceiras.
No evento sobre a discussão internacional no âmbito da Cúpula da Amazônia, um dos momentos de destaque foi o curso “Diplomacia Amazônica”, realizado pelo Instituto Rio Branco para os técnicos do Sistema OCB. As equipes falaram sobre os esforços em proteger os biomas amazônicos com o auxílio de projetos envolvendo a sociedade e os parceiros estrangeiros. O grupo também fez uma imersão no cooperativismo amazônico, promovendo a integração com os Sistemas OCB do Pará e do Amazonas.
No próximo ano está programada para acontecer a Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30) em Belém. Essa será uma oportunidade para as cooperativas, empresas e outras instituições explorarem novas possibilidades de parcerias voltadas para o desenvolvimento sustentável da Amazônia.
Débora lembra que ao unirem seus recursos, conhecimentos e experiências, essas entidades podem explorar novas atuações em diversos setores, tais como agricultura de baixo carbono, conservação florestal, bioeconomia, turismo sustentável, tecnologia verde, economia circular, entre outros. Por meio de projetos conjuntos, as cooperativas se beneficiam no acesso a novos mercados, tecnologias e recursos financeiros. Por outro lado, as empresas podem fortalecer suas cadeias de suprimentos, promover a responsabilidade socioambiental e inovar em seus produtos e processos. Além disso, as parcerias podem impulsionar a criação de empregos, o desenvolvimento de infraestrutura sustentável e a conservação dos recursos naturais da Amazônia.
“O Sistema OCB tem apoiado as cooperativas a pensarem nas parcerias como instrumento de agregação de valor e de competitividade para seus negócios. Uma das soluções oferecidas é o Programa de Negócios, que realiza um mapeamento da cooperativa orientado no levantamento de possíveis melhorias no posicionamento de mercado da instituição. São mais de 40 cooperativas atendidas até o momento, sendo a maior parte delas situadas na Amazônia”, indica Ingrisano.
Parcerias impulsionam renda das famílias
Um dos projetos de destaque que une empresas e cooperativas é o “Amazônia Viva”, um projeto de financiamento híbrido. Ele conta com a participação da Natura, em parceria com a VERT Securitizadora e o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO). A operação pretende beneficiar também 10 cooperativas e associações agroextrativistas na região, impactando 1800 famílias. A fase piloto contou com um auxílio de R$12 milhões, sendo metade por meio de certificados de recebíveis do agronegócio (CRA) e a outra, de um fundo de recursos não-reembolsáveis (filantrópico).
Os responsáveis em sustentabilidade da Natura & Co América Latina explicaram que o sistema de financiamento são ferramentas importantes para fortalecer os negócios em conjunto com as cadeias da sociobiodiversidade. O Programa Natura Amazônia tem como objetivo estruturar, aprimorar e expandir as cadeias produtivas sustentáveis, com investimentos em capacitação, eficiência produtiva, transferência de tecnologias, priorizando a geração de impacto socioambiental positivo. Atualmente, a empresa se relaciona com 41 comunidades agroextrativistas da Amazônia, dispõe de 42 bio ingredientes da sociobiodiversidade amazônica, adquiridos a partir de 91 cadeias de fornecimento. Esse conjunto contribui para conservar 2 milhões de hectares de floresta.
A ideia é que as cooperativas agroextrativistas prosperem com a economia da floresta em pé, produzam riqueza localmente e atuem como parceiras na promoção do desenvolvimento social, conservação e regeneração ambiental. A Natura estima que na próxima década o projeto impulsione o desenvolvimento sustentável e econômico em 16 territórios, aumente a produção de mais de 40 cooperativas, associações agroextrativistas e beneficie mais de 10 mil famílias na região. A meta para 2030 é aumentar o faturamento das entidades, melhorar as rendas das pessoas e contribuir com a regeneração de 3 milhões de hectares de florestas.
A empresa considera importante apoiar o desenvolvimento sustentável dos territórios em que atuam, por isso, em conjunto com os parceiros e fornecedores, realizam estudos de coeficiente de produção e, a partir destes, são estabelecidos preços justos nas cadeias de abastecimento. Além dessas ações, a empresa promove a inclusão digital de comunidades rurais nos municípios de Abaetetuba, Igarapé-Miri e Cametá no Pará com a instalação de rede de internet, compra de equipamentos, capacitação em noções básicas de informática e o uso dos equipamentos.
Outros programas têm apoiado as empresas e as cooperativas da região. Um deles é o Programa da Apex Brasil, que criou o “Programa Exporta Mais Amazônia”. Ele possui alguns eixos, entre eles gerar oportunidades de negócios para a agricultura familiar, cooperativas e empresas, criar uma política estruturada na promoção das exportações de empreendimentos do Norte. Em paralelo, foi desenvolvido um evento chamado “Diálogos Exporta Brasil”, que busca sensibilizar autoridades e as empresas locais para a cultura exportadora, possibilitando novas oportunidades. Ele contou com a participação de mais de 20 cooperativas do Acre dos ramos de agricultura familiar, agroextrativista, trabalho e produção, bens e serviços. A ideia de todas essas ações é promover o fomento do cooperativismo com o foco na agroindústria sustentável.
“Projeto Valores da Amazônia” une SOS Amazônia com oito cooperativas locais
A parceria da SOS Amazônia com as cooperativas tornou-se mais forte a partir do “Projeto Valores da Amazônia” em 2015.
O projeto envolve o apoio a oito cooperativas, uma delas indígena e uma associação de mulheres.
Entre as ações envolvidas estão a estruturação do empreendimento, capacitação, assistência técnica, manejo florestal sustentável, certificação de produtos e o auxílio à comercialização.
O seu principal objetivo era fortalecer cadeias de produtos da sociobiodiversidade, como óleos vegetais, borracha nativa e cacau silvestre.
Thayna Souza, engenheira florestal de formação e atualmente à frente do programa de Áreas Naturais Protegidas e Conservação da Biodiversidade da SOS Amazônia conta que a instituições esteve presente oferecendo assistência técnica na consolidação de cadeias produtivas e na estruturação das cooperativas, por meio de sua assessoria e acompanhamento.
Dentro desse processo a SOS Amazônia se uniu às empresas Veja, de origem francesa que utiliza a borracha nativa para produção de calçados, e a Luísa Abram, fabricante de chocolate fino com a finalidade de viabilizar a comercialização da produção extrativista.
“Ao comercializar produtos de origem agroextrativista, as cooperativas agregam inúmeras famílias em diferentes cadeias socioprodutivas, fomentando a bioeconomia e consolidando a base comunitária de territórios tradicionais. Ao estarem vinculadas a uma cooperativa, as pessoas extrativistas formalizam a comercialização de seus produtos e obtêm documentos importantes que, mais tarde, contribuem para a aquisição de aposentadoria e auxílios previdenciários”, lembra Souza.
Cooperativas investem em ciência para dar novos caminhos a produção local
Várias cooperativas têm apostado em projetos com o foco em uma produção mais sustentável na região da Amazônia. Uma delas é a cooperativa de crédito, Sicoob Credip, no estado de Rondônia, que resolveu investir no desenvolvimento de um campo mais produtivo, social e econômico. A cooperativa, em parceria com o Sebrae, a Embrapa e a associação local de produtores de café, passou a fomentar e difundir entre os produtores de café o uso de boas práticas agronômicas.
“O resultado desse processo foi a obtenção de uma bebida de perfil sensorial exótico e único, com plantas que se adaptaram e se naturalizaram com rusticidade e alta produtividade. Isso deu origem aos cafés especiais Robustas Amazônicos 2, que obteve até mesmo uma Identificação Geográfica inédita para cafés canéforas sustentáveis do mundo”, ressalta Débora.
Outras cooperativas que têm ido por esse caminho são a Cooperacre 3, localizada no Acre, referência mundial na produção de castanhas. Ela adotou práticas sustentáveis, garantindo a continuidade da produção local e o progresso econômico sustentável nas comunidades amazônicas. Já a Cooperacre, que ainda se encontra em colaboração com a empresa V. Fair Trade Comércio e Exportação de Calçados e Acessórios (VEJA), desempenha um papel fundamental no desenvolvimento da cadeia produtiva da borracha sustentável, proveniente de seringais nativos da Amazônia.
Débora conta que a cooperativa é responsável por coordenar toda a logística, incluindo visitas aos pequenos cooperados, questões fiscais e pagamentos. “Atualmente, a cooperativa conta com mais de 1900 famílias colaborando com a VEJA por meio da Cooperacre, demonstrando uma parceria sólida e significativa”, lembra a gerente do Sistema OCB.
Dentro desse grupo estão a Cooperativa Agrícola Minas de Tomé-Açu (CAMTA) localizada no Estado do Pará, que iniciou as suas atividades comerciais na produção de pimenta-do-reino. Por conta disso, ela recebeu o selo de reconhecimento da produção orgânica em países com critérios rigorosos de importação, como é o caso do selo JAS (selo de orgânicos do Japão), o selo USDA Organic (Estados Unidos), o selo de agricultura orgânica da União Europeia e o selo International Organic.
Por fim, outra parceria envolveu a atuação da Cooperativa Cooperar 6, Cooperativa Agroextrativista do Mapiá e Médio Purus, no Estado do Amazonas, e organizações não governamentais para criar um plano de manejo florestal sustentável da floresta. Ela conta com cerca de 450 cooperados, a Cooperar reúne a população ribeirinha da Vila Céu do Mapiá.
Por Priscila de Paula – Redação MundoCoop
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